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O Miguel Gonçalves

por PR, em 22.04.13

O Miguel Gonçalves é aquele rapazinho engraçado dos termos em inglês, da conversa da motivação, do emprego jovem e do bater punho. Para alguns, o Miguel é um guru do empreendorismo, incumbido de anunciar a boa nova aos jovens licenciados (e aos desempregados em geral): está nas tuas mãos mudar a situação. Para outros, o Miguel é uma fraude, que vive de catch-phrases, lugares-comuns e vende a banha-da-cobra.

 

Eu tenho uma visão um pouco menos extremada daquilo que o Miguel é. Mas uma coisa salta à vista: profeta do emprego ou arauto da desgraça, o Miguel parece ser terrivelmente ingénuo. Só assim se explica que dê hoje uma entrevista ao i em que o título é  "Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo". Duas semanas depois de ter provado o sabor agridoce dos media, o Miguel já devia saber do que a casa gasta; e ter-se exposto desta forma não abona muito em seu favor.

 

O Miguel diz coisas obviamente disparatadas. Afirmar que o desemprego tem uma solução pessoal ignora uns anitos largos de investigação económica acerca de rigidez nominal e outras fricções, que fazem com que o processo de ajustamento macroeconómico transcenda o nível da acção puramente individual. A sua teoria de que é tudo uma questão de querer, de desejo e de vontade choca com um problema óbvio: os portugueses (e o resto do mundo em geral) não estão hoje mais preguiçosos do que estavam em 2007.

 

Em suma, não foi por batermos menos punho que chegámos aqui; e não será por batermos mais que saíremos do mesmo sítio. Há aqui alguma coisa a escapar ao Miguel.

 

Isto não significa que o Miguel seja, em rigor, completamente inútil. Todos os atletas precisam de um treinador ao lado a gritar-lhes ao ouvido que vão chegar ao fim da prova. A certeza de que a meta é alcançável, que a vitória é possível e que somos melhores do que pensamos ser é uma condição essencial para que possamos de facto superarmo-nos. Os discursos de motivação, à la Rocky Balboa, são, num certo sentido, altamente bacocos: é necessário que quem os ouve acredite efectivamente que é um leão arrasador, um campeão invencível destinado a alcançar o pódio. Mas pôr o cérebro de molho durante breves instantes é um preço aceitável a pagar se o resultado for uma melhoria substancial da performance.

 

O Miguel faz bons discursos deste género. Entusiasma as massas. Puxa pelas pessoas. Quem ouve o Miguel acha que chegar mais cedo ao trabalho, e sair mais tarde, é um primeiro passo para arranjar emprego. E, num certo sentido, é. Mas se todos fizerem o mesmo, a coisa não muda em nada: continuamos com uma taxa de desemprego de 19%, com a única diferença de que trabalharemos mais duas horas por dia. Talvez o Miguel pudesse ser um excelente personal trainer. Pedir-lhe mais do que isso parece-me manifestamente exagerado.    

 

 

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publicado às 18:37

Há por aí um novo manifesto pela redução da despesa pública. Nada contra, não fosse este facto pequenino: reduzir a despesa pública é algo que se está a tentar fazer (com sucesso relativo, assuma-se) desde há três anos para cá. É possível fazer melhor? É. Mas, convenhamos, este manifesto não dá um contributo especialmente iluminado para ajudar à coisa. E portanto inspira o regresso à vida deste blogue, um mês depois do último post.

 

Há quatro erros de base. O primeiro é factual. O manifesto, como muito boa gente que devia estar mais informada (lembram-se?), dá a entender que não a despesa pública é uma vaca sagrada que passou incólume à orgia de impostos de Vítor Gaspar. "Passados estes vinte meses de governação, o que os cidadãos efectivamente sentem é um aumento brutal da carga fiscal: cada vez pagam mais, sem verem, de forma palpável, a contrapartida de o Estado gastar menos".

 

Mas só não vêem se não quiserem. Para tornar a coisa mais "palpável", comparei Portugal com um país reconhecidamente prudente, como a Alemanha. São as chamadas "ideias barata": por muito que as atiremos pela sanita abaixo, arranjam sempre uma forma de voltar para nos atormentar.

 

 

 

O segundo erro é menos uma questão de facto e mais um problema conceptual, a que atribuo o nome técnico de "síndrome de pensamento rápido" - porque normalmente resulta do facto de não se querer pensar no assunto mais do que trinta segundos seguidos. Nesta categoria caem todas as críticas que se limitam a identificar uma série de bodes-expiatórios da Administração Pública onde é preciso cortar - as "fundações", "observatórios", "as 13.000 entidades que vivem do Orçamento do Estado", "empresas públicas", e por aí fora.

 

É óbvio que há muitas fundações e observatórios onde cortar. Mas também é óbvio, para mim, que há muitos centros de investigação académica, muitos serviços públicos e repartições que são óptimos candidatos a cortes no Orçamento de 2014. Numa análise mais fina, até seria capaz de apontar a dedo alguns médicos, professores e assistentes sociais concretos cuja dispensa dificilmente deixaria o Estado mais pobre. Infelizmente, aquilo que é óbvio para uns não costuma ser óbvio para outros, o que sugere a necessidade de encontrar algum método mais fiável (e consensual, já agora) de reformar os quadros do Estado do que simplesmente cortar onde é "óbvio" que se deve cortar.

 

A terceira confusão é entre eficiência e poupança. Por exemplo, quando se escreve, acerca da educação e saúde, que "Havendo iniciativa particular disponível, de génese empresarial ou social, não há razão para a discriminar e excluir das redes de prestação de serviço público. Pelo contrário, como o exemplo do modelo escandinavo bem evidencia".

 

A isto está subjacente a ideia de que os privados permitem uma saúde e educação mais barata, o que não me parece ter confirmação empírica. De facto, os países nórdicos são conhecidos por terem sistemas eficientes, mas se há coisas que estes regimes "bem evidenciam" é que o que é bom custa dinheiro. E não deixa de ser irónico que se pegue em países com rácios de despesa pública acima dos 50% do PIB para defender a redução da despesa pública num país que já está bem abaixo desse rácio.

 

Finalmente, um último erro: irrealismo. No final, o manifesto diz que "Para se atingir uma situação sustentável, a médio e longo prazo, devemos reduzir a despesa estrutural primária para 33% do PIB em quatro anos".  Uma pessoa lê isto e pensa: mas onde é que foram buscar este número? Ou, de outro ponto de vista, qual é a referência, o benchmark ou o exemplo em que se baseiam para apontar para esta meta? Na Europa onde eu vivo, há apenas um país com despesa estrutural primária na casa dos 33% do PIB.

 

 

 

Aliás: não há nenhum. 

 

 

 

 

 

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publicado às 12:46


Outra forma de ver as coisas

por PR, em 07.03.13

Nada como interromper um longo período vegetativo com uma adenda a um post velhinho. Mas este pode ajudar a clarificar as dúvidas que permanecem depois da série anterior. E sim: é acerca da importância dos processos em situações de negociação.

 

Imagine-se uma situação em que um sujeito tem informação confidencial e é subitamente capturado por gente malvada. Qual o grau de sofrimento que o torturador estará disposto a infligir para extrair essa informação? Se não tiver escrúpulos, o céu é o limite. O torturador pode aplicar todos os seus recursos para maximizar o desconforto alheio e assim aumentar a probabilidade de obter a informação desejada.

 

Mas uma fonte de informação morta não serve de nada. Por isso, apesar de a consciência do torturador não impor limites às técnicas que podem ser empregues, a capacidade de resistência física do torturado cria um upper bound que não pode ser transposto. A tortura deve ser, como dizia o Rei James, "gentle at first, and then more severe", mas não tão severa que mate a galinha dos ovos de ouro. É importante notar que este limite não resulta de comoção, sensatez ou compaixão. Resulta do simples facto de haver um limite físico àquilo que o torturado aguenta.

 

A estrutura desta relação é análoga à estrutura da relação entre os países credores e os países devedores. Não é exactamente igual, mas é suficientemente parecida para iluminar algumas confusões. 

 

No primeiro caso, há um torturador com interesse em obrigar uma terceira parte a levar a cabo uma acção: revelar informação. Os meios de que dispõe são a força física e a violência. No segundo caso, há um país credor com interesse em obrigar um país devedor a levar a cabo outra acção: reduzir o seu défice e tornar a dívida sustentável. O meio de que dispõe é a disponibilização de financiamento que mais ninguém está disposto a conceder. Se o torturador suspende a força física mediante o acesso à informação, o país devedor concede o empréstimo mediante a implementação de medidas de austeridade.

 

A subtileza seguinte a notar é que, da mesma forma que há um limite físico àquilo que pode ser obtido através do "pau" da tortura, também há um limite físico àquilo que pode ser obtido através da "cenoura" do financiamento. O "limite físico", ou upper bound se quisermos, é dado pela alternativa - que está sempre disponível - do país devedor abandonar o euro. Se a violência da austeridade proposta for superior à violência que seria gerada se se abandonasse o euro, então cria-se aí um limite "físico" para a capacidade de tolerância do país em causa. Um torturador não pode extrair informação de um morto, tal como um credor não pode fazer chantagem com um país que se financia na sua moeda própria.

 

Isto tem uma implicação importante. Se houver uma "revisão em alta" das "dores da austeridade" (por exemplo, porque os multiplicadores são maiores do que o previsto, ou porque a procura externa mingou), os países credores terão de ajustar as suas exigências orçamentais aos países devedores, da mesma forma que um torturador terá de reduzir o nível de dor se a fonte de informação ficar subitamente fragilizada. Não há aqui pena, comoção ou "alteração de estratégia": é apenas a acção racional de um agente que sabe que há um limite físico àquilo que pode ser atingido através do pau e da cenoura. O limite é a morte num caso, e a diferença entre a dor da austeridade e a dor de sair do euro no outro.

 

É aqui que entra a capacidade negocial e construção de um bom track record. Um país confiável e pode dar à outra parte a certeza de que não usará uma revisão de metas orçamentais como escapatória para não fazer reformas ou para deixar o legado a outro Governo. Assim, abre as portas a uma possibilidade que, até aqui, não podia ser equacionada: alterar as metas antes de se chegar ao limite físico da dor - que, uma vez transposta, implicaria a saída do euro.

 

Grande parte da conversa em torno da renegociação das metas não faz sentido. Resulta de uma forma ingénua de perceber o que está em causa, e de uma impossibilidade clara de ver o "quadro geral". Que a Troika aceitaria sempre flexibilizar as metas é uma trivialidade, tão banal como dizer que um torturador irá dosear a tortura de maneira a garantir que não mata a fonte de informação. A questão - toda a questão, neste caso - está em saber quando será essa flexibilização concedida. Um país de aldrabões terá de esperar até estar às portas da morte para ter algum alívio; mas um país de bons rapazes poderá contar com o seu bom track record para conseguir favores antes do ponto de ruptura. A diferença entre o primeiro e o segundo resultado será largamente ditado pela forma como o país em causa geriu o processo de consolidação e a relação com os credores. O resto é, vá lá, absolutamente irrelevante.

 

 

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publicado às 11:38

Ao reler a série de posts anteriores, fico com a ideia de que o raciocínio subjacente pode ser algo confuso. Deixem-me reformular, recorrendo a um exemplo que toda a gente conhece: o Dilema do Prisioneiro.

 

No Dilema do Prisioneiro (DP), a polícia captura dois prisioneiros, que mantém em celas separadas. Há provas suficientes para os condenar por um delito menor – digamos, 6 meses de cadeia cada um – mas que não chegam para conseguir uma grande condenação. Para que a pena máxima (5 anos, por exemplo) possa ser aplicada, é preciso que pelo menos um dos prisioneiros confesse o crime.

 

A solução da polícia é apresentar o seguinte acordo a cada prisioneiro: em troca de uma acusação formal do parceiro, é-lhe concedida a liberdade. Se nenhum incriminar o outro, a polícia usa as provas mínimas e consegue condenações de 6 meses para cada um. Se um incriminar o outro, é absolvido e segundo condenado a 5 anos. Se ambos se incriminarem, o resultado é uma pena de 2 anos para cada.

 

O dilema é fácil de perceber. Cada prisioneiro deve sempre escolher a opção de “incriminar o parceiro”. Seja qual for a opção que o outro escolher, esta é a escolha que minimiza o seu tempo de cadeia (0 anos no mínimo e 2 anos no máximo). Porém, como ambos vão pensar desta forma, o resultado final será uma pena de 2 anos para cada um – mais do que seria se ambos pudessem ter acordado previamente aquela que era, individualmente, a pior opção: não incriminar o colega. E esta, hein?

 

Ora bem, o DP não precisa necessariamente de ter este resultado trágico. Na verdade, uma pequena alteração das regras do jogo pode conduzir a resultados substancialmente diferentes. Imaginemos, por exemplo, que as ofertas vão sendo sucessivamente repetidas pela polícia, e que a opção dos prisioneiros (“denunciar” ou “Não denunciar”) só é validada depois de confirmada 10 vezes. Neste caso, os prisioneiros não precisam de jogar na defensiva e usar a estratégia inicial; podem, sem risco, tentar a solução de compromisso (não denunciar) e revertê-la caso não haja reciprocidade do outro lado. O DP só é um dilema se o “jogo” for em regime de one shot; se o jogo for iterado, lá se vai o dilema.

 

O que é que tudo isto tem a ver com Portugal? Mais do que parece, embora a analogia não seja perfeita.

 

O DP de Portugal é com a Europa. Assumindo que ambos os países querem que Portugal pague a sua dívida externa, e assumindo ainda que a melhor estratégia para pagar essa mesma dívida é a de um ajustamento orçamental mais lento do que o actual, deveria ser relativamente fácil que ambos negociassem uma suavização do programa de austeridade: um (a Europa) comprometia-se a dar mais dinheiro, e o outro (Portugal) comprometia-se a aplicar mais medidas, ao longo de um período mais prolongado de tempo. Na medida em que o ajustamento seria mais fácil, e levantaria menos contestação social, ambos beneficiariam.

 

Na prática, porém, este resultado não é fácil de alcançar. Para a Europa, esta alternativa significa expor-se a dois riscos adicionais: dar mais dinheiro hoje a um país que tem um historial de irresponsabilidade orçamental, e abdicar da certeza de que pelo menos algumas medidas de consolidação orçamental serão tomadas. A Europa tenderá assim a favorecer uma estratégia de consolidação abrupta, mesmo que um ajustamento suave seja, do puro ponto de vista da consolidação orçamental, a melhor opção. A estrutura do conflito torna esta opção uma carta fora do baralhado.

 

Tornar a pôr esta carta no baralho implica alterar substancialmente as regras do jogo. Como? Uma possibilidade – a única, possivelmente – é dar garantias à contraparte de que os receios implícitos à rejeição da melhor opção são infundados. Se a Europa não tiver razões para crer que Portugal não vai tentar renegar a sua dívida, estará mais disponível para dar mais dinheiro e abdicar da imposição de medidas de austeridade hoje. Isto faz-se construindo uma relação de confiança, que exige igualmente dar provas de que se é uma contraparte confiável.

 

É isso que Gaspar tem feito. O ‘papel de bom aluno’ é apenas uma forma de iterar o Jogo do Prisioneiro com os alemães. Ao fazê-lo, está a alargar as possibilidades de escolha para ambos os lados, e a garantir as condições necessárias e suficientes a um alargamento do prazo de ajustamento orçamental. 

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publicado às 23:28

O Samuel de Paiva Pires refere os números da execução orçamental de 2012, que mostram uma quebra brutal das receitas fiscais apesar da subida das taxas de imposto. E pergunta: isto não tem nada a ver com a curva de Laffer? Bom… não. E é muito fácil perceber porquê.

 

Acerca da curva de Laffer já falei aqui (e nos posts seguintes); mas a ideia com que fico é que este é um daqueles temas de Sísifo; por muito que se explique bem as coisas, quando se pensa que a pedra está bem presa no topo da montanha e se vira as costas para voltar cá para baixo, lá começa ela lentamente a rebolar pela encosta. Ainda assim, aqui vai uma segunda tentativa.

 

Algures entre os anos 70 e 80, Arthur Laffer avançou (ou recapitulou, segundo o próprio) a ideia de que há um ponto óptimo para o nível de impostos. O raciocínio de Laffer baseava-se na ideia de que impostos mais altos têm dois efeitos que actuam em sentido contrário: por um lado, aumentam a receita por aplicarem uma taxa maior aos rendimentos sujeitos a tributação; por outro, desincentivam a criação de riqueza e acabam, assim, por reduzir a base de incidência fiscal. Conjugando os dois efeitos, chega-se à conclusão simples de que há um nível de impostos óptimo que maximiza a receita.

 

Agora, é preciso notar uma coisa. Laffer não argumentou que os impostos reduzem a procura e deprimem a actividade económica – esse é o canal keynesiano que já se conhecia desde os anos 40. E, a esse nível, tanto faz ser aumento de impostos ou redução de despesa, porque subir o IRS sobre a generalidade dos trabalhadores não é significativamente diferente de cortar salários e pensões. As ideias de Laffer eram precisamente os alicerces da economia da Oferta, segundo a qual as subidas de impostos tornariam a criação de riqueza menos rentável, atirando a economia para um nível de actividade permanentemente mais baixo

 

Como é que sabemos que não é isto que está a acontecer? Esta é fácil. Se houvesse um problema de incentivos, a contracção da actividade estaria a ser causada pela diminuição da produtividade. Mas não há nenhuma diminuição da produtividade: o que vemos é uma quebra brutal do emprego. É um problema de procura. E se é um problema de procura, a culpa da recessão recai sobre todas as potenciais componentes da procura: subida de impostos, sem dúvida, e… cortes na despesa pública. Mas não há grandes novidades aqui. Isto é apenas o equivalente a dizer que uma política orçamental contraccionista é… bom, contraccionista.

 

Agora, será possível argumentar que a subida de impostos tenha reduzido a colecta fiscal através de mecanismos keynesianos? É possível, mas é uma história difícil de engolir. Uma subida de impostos tem, no curto prazo, um efeito de redução do rendimento disponível das famílias e empresas, que diminui a procura e, consequentemente, o PIB. Assim, o impacto orçamental real da subida de impostos é inferior ao que seria estimado através da simples aplicação mecânica das novas taxas à base de incidência anterior. Mas acontece exactamente o mesmo com a despesa pública. Se o Estado cortar 100€ de despesa, o impacto negativo na economia desta poupança irá gerar desemprego, que implica subsídios e outras ajudas, fazendo com que a redução líquida de despesa seja inferior ao que se esperaria sem levar em conta os efeitos de feedback. Mas é altamente improvável que a contracção na economia alimentada pela contracção orçamental seja suficiente para anular os efeitos orçamentais das poupanças iniciais – sejam do lado da receita, sejam do lado da despesa.

 

A ideia com que fico, quando vejo argumentos destes, é os seus proponentes não percebem como funciona uma economia integrada, onde a despesa de um sector é receita do outro. E isto vale tanto para os impostos como para os gastos públicos. Quem defende que a subida de impostos está a conduzir a menos arrecadação fiscal está, mesmo que não o saiba, a defender uma doutrina acerca da ligação entre política orçamental e actividade económica segundo a qual um corte de despesa acabaria também por se anular a si mesmo.

 

Ok, e agora a sério: como é que o Estado aumentou as taxas e os impostos desceram? Não está isto em contradição clara com o que acabei de explicar? Não. O Estado não aumentou apenas os impostos: também cortou despesa, e muito. Despesa que paga IRS e contribuições (salários dos funcionários públicos), IRC (compras de bens e serviços) e IVA (salários, transferências, bens e serviços, etc., etc.). Com cortes desta dimensão, estranho seria que os impostos não caíssem. Qual é exactamente a dúvida?

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publicado às 02:05


Por que gosto de Vítor Gaspar

por PR, em 23.01.13

Para quem tiver paciência:

 

Por que gosto de Vítor Gaspar I

Por que gosto de Vítor Gaspar II

Por que gosto de Vítor Gaspar III

 

(E uma curiosidade: os dois primeiros posts, e metade do terceiro, foram escritos no domingo à noite, bem antes de se saber que Portugal ia regressar aos mercados mais cedo do que o previsto. O terceiro foi concluído hoje)

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publicado às 00:27

Uff... Foram precisos três posts, e muitos milhares de caracteres, mas aqui vai: por que é que gosto mesmo do homem.

 

 

  

 

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publicado às 00:21


Por que gosto de Vítor Gaspar II

por PR, em 23.01.13

Abandonemos um pouco o ponto de vista dos credores AAA e pensemos nos devedores. O que poderia o ministro das Finanças de um dos PIGS fazer para sair da crise? A resposta é fácil: consolidar as contas, pagar os empréstimos e voltar a casa. Por isso, deixem-me reformular a pergunta: o que poderia um ministro das Finanças fazer quando a austeridade começasse a ter resultados marginais cada vez mais pequenos, quando começasse a perder o apoio popular e quando constatasse, finalmente, que a estratégia que estava a seguir estava a ter cada vez mais efeito na economia do que propriamente nas contas públicas?

 

 

 

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publicado às 00:16


Por que gosto de Vítor Gaspar I

por PR, em 22.01.13

A crise do euro é fascinante. Não estou, obviamente, a falar dos seus aspectos mais marcantes – o desemprego e a recessão são, em si mesmos, muito pouco fascinantes. O que é verdadeiramente fascinante nesta crise é a conjugação tão particular de causas que a fizeram germinar. Ingredientes triviais em circunstâncias normais mas que, numa união monetária de países tão diferentes, produziram uma substância suficientemente tóxica para garantir, desde o início, que a crise seria necessariamente profunda, dolorosa e muito, muito longa.

 

E o que tem isto a ver com o título do post? Bom, já lá vou. Por enquanto, um aviso à navegação: este post é muito longo. (Tão longo que, quando acabei de o escrever, tive de o dividir em três).

 

 

 

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publicado às 23:57


a culpa é dos portugueses

por JM, em 07.01.13

Mataram os índios, derrubaram todo o pau brasil e até foram os portugueses que trouxeram para cá a corrupção. Já passaram quase duzentos anos da independência do Brasil, mas o sangue português que corre nas veias de muitos brasileiros continua a impedir o Brasil de andar para a frente - parece que só os brasileiros é que ainda não perceberam que o gigante adormecido, o país do futuro, acordou. E já lá vão alguns anos.

 

Muita da história que conhecemos é fabricada e desse imaginário surgem alguns dos preconceitos mais difíceis de ultrapassar. Aqui no Brasil, quando se fala na culpa dos portugueses, diz-se que isso aconteceu porque para cá veio toda a ralé, a escumalha, a escória de Portugal. Que aqui se reproduziram ladrões, assassinos e outros que tais e que o sangue deles alimenta tudo o que de mau acontece agora. Se a predisposição para o crime fosse genética, seria uma teoria interessante.

 

Hoje, sem saber, o meu pai inspirou-me este post ao citar Agostinho da Silva, um filósofo português do século XX, curiosamente também ele imigrante temporário em terras de Vera Cruz: "Os portugueses, descontentes com o rumo tomado por Portugal no século XIV mas, sobretudo, no século XV, emigraram tranquilamente e foram fazer lá fora aquele Portugal que não encontraram aqui dentro". Foi assim nos séculos XIV e XV, foi assim no século XX quando ele saiu de um Portugal em ditadura para, por exemplo, fundar a Universidade de Santa Catarina e foi assim sempre. Portugal, para os emigrantes no Brasil e noutros países, sempre foi um país que podia ser muito mais e, porque não cabiam nele, fizeram-se ao mar durante vários séculos. Felizmente, apesar das tentativas, este país não cumpriu o seu ideal e acabou não virando um enorme Portugal.

 

Ainda assim, são identificáveis alguns traços comuns aos dois países, às pessoas dos dois países, e talvez vários defeitos sejam até herança portuguesa. Acho que a culpa é dos portugueses quando os brasileiros dizem que a culpa é dos portugueses, porque também os portugueses acham que a culpa é sempre dos outros. Hoje é dos alemães, antes foi dos americanos, dos espanhóis, dos franceses, dos ingleses, dos mouros. Nunca nossa.

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publicado às 22:32



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