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Abandonemos um pouco o ponto de vista dos credores AAA e pensemos nos devedores. O que poderia o ministro das Finanças de um dos PIGS fazer para sair da crise? A resposta é fácil: consolidar as contas, pagar os empréstimos e voltar a casa. Por isso, deixem-me reformular a pergunta: o que poderia um ministro das Finanças fazer quando a austeridade começasse a ter resultados marginais cada vez mais pequenos, quando começasse a perder o apoio popular e quando constatasse, finalmente, que a estratégia que estava a seguir estava a ter cada vez mais efeito na economia do que propriamente nas contas públicas?
Qualquer avaliação justa deve reconhecer que um Estado soberano tem sempre várias opções. Um Estado como a Grécia poderia deixar de pagar a dívida, deixando assim de receber os empréstimos de que ainda necessita para cobrir o seu défice primário. Ou poderia emitir moeda para o financiar, assumindo assim o ónus da saída do euro. Portanto, reformulando: o que poderia um ministro das Finanças fazer que não agravasse ainda mais a situação?
Vamos assumir como dado adquirido que o objectivo era, simplesmente, e aceitando a necessidade de ajustamento, prolongá-lo o mais possível no tempo, de maneira a mitigar o seu impacto na economia. Há pelo menos duas estratégias possíveis.
A primeira estratégia é a da pressão. Tomemos o exemplo da Grécia. A Grécia não tem, como a Inglaterra tinha no século XIX, um exército que obrigue a Alemanha a emprestar-lhe dinheiro, mas tem formas alternativas de exercer um grau de pressão semelhante. Em primeiro lugar, pode fazer de carneiro enquanto pede o empréstimo e transformar-se em lobo depois de o dinheiro chegar, ameaçando que não paga o empréstimo. Em segundo lugar, pode ameaçar sair do euro – talvez a saída grega não assuste particularmente os alemães, mas a estória muda de figura se o caos gerado por esta saída contaminar os restantes países da periferia.
A Grécia pode assim a quebrar o dilema da crise do euro fazendo com que a estratégia dos AAA de sugar ao máximo se tornasse menos atractiva para os credores do que a estratégia sugar um pouco menos antes que eles façam a casa ir pelo ar. Esta estratégia, potencialmente suicida, não é tão louca quanto parece. De facto, muitos casos diplomáticos no campo das relações internacionais são apenas solucionados quando uma das partes altera o equilíbrio de forças e sobe os custos de uma das alternativas para o outro lado. Mas os riscos de uma escalada do conflito são óbvios.
Outra estratégia para quebrar este dilema passa por ultrapassar o fosso que separa o credor do devedor. Se o credor não dá mais tempo porque não há confiança entre as partes, há que trabalhar essa confiança. Quando a confiança for reestabelecida, será mais fácil tornar a relação mais duradoura, entrando numa solução do género “tu dás-me mais dinheiro hoje e amanhã, mais tempo para eu ajustar e eu comprometo-me a ajustar durante um período mais prolongado”.
Se é fácil perceber em que consiste esta estratégia , é mais difícil perceber como é que ela pode, na prática, ser implementada. Uma forma simples de dar confiança entre as partes é unir indelevelmente o seu destino, de forma a que possam partilhar objectivos comuns. Nas relaçoes interpessoais, isto faz-se através de contratos formais como o casamento – que neste caso, significaria avançar para uma união política, assumindo a responsabilidade de um ajustamento prolongado e dando, em contrapartida, a possibilidade de intromissão unilateral na nossa política interna.
Mas uma forma mais branda de confiança passa por dar provas de que somos confiáveis. Uma pessoa que não abandona o amigo numa situação de aflição está a dar uma prova de que é confiável, que vale mais do que quaisquer promessas que se possam fazer. Um ministro das Finanças confiável deve adoptar uma postura semelhante, aceitando sacrificar a sua segurança em prol de um objectivo maior. Um ministro das Finanças confiável adopta medidas de austeridade sem se preocupar permanentemente com cálculos de ordem política e partidária; revela uma grande obstinação na redução do défice e perde mais tempo a pensar em formas de controlar a despesa do que a pressionar os credores para ter juros mais tempo ou mais dinheiro; não tem medo de arriscar a sua reputação com medidas impopulares; e abdica de alimentar a plebe com ilusões de ‘políticas de crescimento’ que sabe que não pode financiar. Um ministro das Finanças confiável mostra a quem está lá fora que não está cativo de promessas que nunca chegou a fazer.
Qualquer das duas estratégias pode ser bem sucedida. Mas, apesar de serem completamente divergentes, ambas têm um elemento em comum: a escolha de qualquer uma delas inviabiliza, quase automaticamente, uma inversão de marcha a meio do caminho. Um Estado cumpridor e confiável já revelou que não está disposto a arriscar a solução de risco, o que esvazia a credibilidade de um bluff do tipo “ou nos ajudam ou rebentamos com isto”; e um Estado que tente a estratégia kamikaze corrói definitivamente a sua credibilidade junto dos credores, o que impossibilita contratos de longo prazo com esses mesmos credores. Uma vez falhada a estratégia da ‘renegociação pela ameaça’, torna-se quase impossível conseguir ganhar a confiança necessária para uma ‘renegociação pela persuasão’.
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